Brasil -


6 de abril de 2011

O silêncio sepulta, mas não mata

Depois que vi o tiroteio gratuito efetuado pelo deputado Bolsonaro no CQC (e o deputado parece mesmo entender de tiro, mas não de alvo), a primeira coisa que me perguntei era se tudo não passava de mais um desses "fatos criados pela mídia", expressão que virou argumento pronto e fácil para encerrar discussões indesejáveis. Para ser mais direto, me perguntei se Marcelo Tas e Cia. não estavam deixando definitivamente para trás a memória de Ernesto Varela e abraçando a canalhice de um Ratinho. 
Não foi surpresa ver, aqui e ali, em uma hiperpágina ou outra, em um comentário ou outro (às vezes desfechado por gente de educação superior, da academia), essa idéia sendo repetida: era só mais um factoide promovido para alavancar audiência. 
Curiosamente, tais comentários do tipo "vamos deixar isso para lá que é só 'coisa da mídia'" quase sempre vinham acompanhados da lembrança de que o deputado em questão é... bem, é deputado. Foi eleito por gente que provavelmente gosta de ouvi-lo dizer coisas como as que ele diz, seja referindo-se a negros, seja referindo-se a gays. 
Ora, bolas, mas se é assim, o argumento do factoide cai por terra. O que o CQC fez foi expor ao sol um tipo de larva política nojenta, que vive rastejando sob o esterco de seus currais eleitorais (essa nova modalidade de curral, que já não pertence mais ao "coronel clássico" mas a um novo tipo de manipulador que usa como cabresto não a força contra seus eleitores, mas a força contra aqueles que seus eleitores pensam que devem odiar). 
É claro que não é a primeira vez que Bolsonaro aparece fazendo o papel de filhinho do general Figueiredo. Mas dessa vez a aparição foi útil: como vermezinho que é, não está resistindo bem aos raios solares. E os asquelmintos que o elegeram e que gostam de comer no mesmo chão em que ele come receberam um recado claro do público: se quiserem continuar com esse tipo de comportamento, vão se acostumando a viver no refugo, sem direito de cidadania sobre o solo; sem direito a qualquer lufada de ar fresco. 
Enfim, essa conversa de que o CQC promoveu o deputado é mais do que fiada. Talvez tenha sido um dos poucos momentos do programa que acertou bem o alvo. Quem acredita que gente como Bolsonaro, que tem mandato político - e, portanto, poder concedido - deve ser mantida fora do ar para não propagar ideias de coloração fascista está esquecendo que o silêncio não resolve nada. É preciso expô-los, é preciso deixá-los mostrar sua carranca abominável para que saibamos com clareza o que rejeitar. Fingir que gente assim não existe no Congresso - e em outros lugares de higiene duvidosa - é pior. 
A aposta no esquecimento é muito perigosa. Não devemos perder de vista que foi justamente por um dar de costas que o nazismo histórico avançou sobre a Europa. Gente dessa laia gosta de ser esquecida enquanto costura sua rede de contatos. Para seu palavreado imbecil vale o ditado: o silêncio sepulta, mas não mata. Deixemos que eles morram, portanto, engasgados com suas próprias palavras, feridos por sua própria voz. 


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