Brasil -


22 de maio de 2010

Meninos e meninas

Ninguém duvida que o Dr. Drauzio Varella seja um humanista respeitável. Hoje, em sua coluna na Folha de S. Paulo, ele decidiu fazer seu humanismo bem humorado intervir na perene guerra que move os sexos. E, como mandam as normas galantes do cavalheirismo, ele tomou partido favorável ao sexo oposto.
Já faz algum tempo estamos dispostos a aceitar a ideia de que o palavrório a respeito do "sexo frágil" é irreal e, de quebra, preconceituoso. Pelo menos aqueles de nós que entendemos que já não há vantagens em se esforçar para manter as mulheres na cozinha. Os mais inteligentes perceberam logo que era melhor (e mais silencioso) que elas saíssem de lá. Além do mais, é lá onde se guardam as facas (uma questão tática).
Ainda assim, não pude deixar de encarar com humor o bom humor do doutor.
Entendo que ele quis nos mostrar um argumento favorável às plenas capacidades femininas quando diz que
As meninas começam a falar muito antes. Aos dois anos já constroem sentenças com sujeito, verbo e predicado, enquanto nessa idade mal conseguimos balbuciar meia dúzia de palavras que só a mamãe compreende.
Tudo bem que nosso doutor entenda que a habilidade com a língua pressuponha um bom intelecto. Poderíamos inclusive sugerir que os seres mais inteligentes entre nós são os... jornalistas.
Mas o foco do doutor, compreensivelmente, é sobretudo biológico: elas são mais longevas. Ainda bem: eu também detestaria um mundo onde a tendência oposta se fizesse valer. Um mundo que acumulasse uma maioria de homens velhos e reclamões? Seria praticamente um ensaio para um conto de Borges... Temo mesmo que nossa espécie não teria prosperado se não fosse assim. Afinal, alguém tem que ficar e alimentar as crianças. E quem melhor para isso  senão aquela que sempre "cuidará da rotina doméstica sem dificuldade"?
 Para terminar este post um tanto canalha, lembro a lição de Penélope e Odisseu: no fim, ela, por ser altiva, com vergonhas para esconder; e ele, com glórias para contar.

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