Brasil -


29 de abril de 2010

Papa e Bin Laden na cadeia

Se existe um assunto em que é difícil encontrar um posicionamento saudável nestes dias, esse é certamente o da relação entre ciência e religião. Então, é com alegria que vejo o filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. entrar nele com o pé direito, acertando os ponteiros dos nossos relógios para que consigamos conversar sobre isso de uma forma produtiva.
Em vez de simplesmente optar pelas alternativas do espectro mais conservador envolvidas no debate, a do extremo-iluminismo e a do fundamentalismo religioso, Ghiraldelli Jr. questiona os perigos envolvidos para todos nós quando pessoas altamente escolarizadas preferem render-se docilmente a doutrinas teológicas com potencial obscurantista.
O problema, no fim, não é ser ou não ser religioso, mas, aceitar as racionalidades regionais das ciêncais, sua aplicabilidade técnica e oferecer tudo isso, sem critério, num altar incensado. Sem sequer perceber que o que tornou possível tais racionalidades, o questionamento filosófico que abriu as portas para elas, vai, simultaneamente, descendo pelo ralo.
Creio que se você ler o artigo, vai entender, como eu, que, em última instância, está em jogo nossa liberdade.

Veja alguns trechos:

Eles [Dawkins e Hitchens] estão nos mostrando que, talvez, uma boa parte do Ocidente não esteja contra Bin Laden. Eles estão convencidos que os homens de ciência se esqueceram da luta filosófica que a ciência levou contra a mitologia religiosa que oprimia não só a vida social, mas a vida privada, individual. Eles acreditam – não sem dados nas mãos – que há muitas gente cuja escolarização não os deveria permitir que pensassem em termos fundamentalistas e, no entanto, continuam pensando. Essas pessoas não são do Terceiro Mundo somente, elas vivem nas democracias ricas e escolarizadas do Atlântico Norte.
***
Os discursos de Dawkins e Hitchens têm ao menos esse objetivo útil, o de fazer pessoas como eu, extremamente condescendentes com os religiosos, a ficar de orelha em pé. Devo pensar – por que não? – que às vezes os religiosos do Ocidente, ao fomentar antes a magia que a religião, antes o fundamentalismo fanático que a fé enquanto algo de foro íntimo, estão pondo salsicha demais no Hot Dog de figuras como Bin Laden, gente que decisivamente não possui nenhum apreço por nada, nadinha que o Ocidente construiu até agora. Ou melhor, gente que tem apreço, sim, por algumas obras do Ocidente: suas armas, não sua penicilina.
Leia mais no blog do filósofo.

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