Brasil -


21 de março de 2010

Entre calça e saia

Um jornal acaba de atirar em minha cara que há uma "tendêndia à indecisão", num contingente grande de eleitores, entre Dilma e Serra. Não é para menos: não há diferença alguma entre os dois. Não falo da política econômica, tecla em que os partidos de extrema esquerda vão bater em suas exíguas oportunidades no horário eleitoral deste ano. Falo, digamos assim, da igualdade do modus politicus dos dois, que é o mesmo.
Serra e Dilma são dois tecnocratas ansiosos para executar o sonho que desenharam meticulosamente em suas pranchetas douradas. Sim, cada um deles tem uma prancheta dourada, com uma gravação em baixo-relevo: "Quando eu for presidente...". Cada um deles mantém sua respectiva planilha guardada num lugar bem íntimo, diria mesmo inacessível. Nelas acumulam-se planilhas e gráficos, montados com uma matemática bastante pessoal, que mostram o quanto eles são competentes e o quanto estão certos. Naturalmente - e é isso que lhes vale o caráter de tecnocratas - somente eles podem mexer no que está escrito ali.
Qualquer um dos dois governará como tecnocrata. Qualquer pessoa com algum senso sabe que a tecnocracia é a inimiga crucial das democracias contemporâneas. Um governo realmente democrático conta com bons técnicos e os mantêm onde devem estar: longe da caneta lenta das decisões. Dar a Dilma ou a Serra a tal caneta vai ser um desastre.
Serra já mostrou o perigo, em escala estadual. Destruiu durante todo o seu mandato o setor mais estratégico de que um governo deve cuidar: a educação. Com isso, condenou grande parte dos cidadãos paulistas à indigência intelectual, que é algo muito mais difícil de tratar que uma epidemia, pois o tratamento só apresenta resultados no curso de gerações.E, se não bastasse o ensino estadual responder por quase 50% das matrículas (dados do Inep de 2008), sabemos que o efeito dessa educação ruim rebate na totalidade da população de forma deprimente...
Dilma tem a seu favor o fato de não ter ocupado um cargo de ponta no executivo, apenas dois ministérios (incluindo o atual) e duas secretarias estaduais. Nunca esteve no banco da frente. Assim, tudo o que se disser de negativo a seu respeito parece apenas especulação e tudo o que alguém possa dizer de positivo é ungido com o santo óleo da esperança (refinado sabe-se lá onde...). Mas, se tomamos o PT como referência e mantemos os olhos na educação, vemos que qualquer promessa que ela fizer nesse campo será facilmente dissolvida pela acidez do ceticismo mais honesto.
Enfim, se o eleitorado continuar julgando que temos apenas duas alternativas em 2010, a única escolha que ele realmente fará será de gênero, esvaziada de qualquer conteúdo político. Escolherá entre a saia e a calça. Supondo, evidentemente, que Dilma use saia...

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