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FOLHA DE SÃO PAULO, 01/05/2010
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Maioria vai a bibliotecas para fazer pesquisa

Frequentadores são motivados sobretudo por interesse escolar (65%); 21% das cidades não têm unidades municipais

No Norte e no Nordeste, enquanto 75% usam as bibliotecas para tarefas escolares, apenas 1% visitam o local por lazer


Zanone Fraissat/Folha Imagem

Biblioteca Álvaro Guerra, em Pinheiros (zona oeste), onde cada frequentador pode retirar quatro livros por vez; local estava praticamente vazio na tarde de ontem

JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL No final da tarde de ontem, a biblioteca Álvaro Guerra, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, tinha apenas uma frequentadora. Professora, ela fazia pesquisas no local.
O cenário era similar ao da vizinha Alceu Amoroso Lima, onde, entre os 12 frequentadores, havia um grupo de adolescentes estudando e pessoas com listas de livros nas mãos.
Como nos dois locais visitados pela Folha, a maioria das bibliotecas brasileiras é usada mais para pesquisas do que para lazer, aponta o primeiro censo das bibliotecas municipais do país, divulgado ontem pelo Ministério da Cultura.
Segundo os dados, o lazer é responsável por apenas 8% da procura pelas bibliotecas. Em SP, esse índice sobe para 22%.
Já as pesquisas escolares são o principal motivo de frequência às bibliotecas (com 65% das visitas), seguida das pesquisas em geral (26%).
A pesquisa escolar desponta no Norte e no Nordeste: enquanto 75% usam as bibliotecas para tarefas escolares, apenas 1% visitam o local por lazer.
Entre setembro do ano passado e janeiro deste ano, pesquisadores foram a campo e fizeram consultas por telefone coordenados pela Fundação Getúlio Vargas. A pesquisa encontrou o seguinte cenário: 21% das cidades não tinham bibliotecas municipais abertas.
Em 8% dos municípios, de fato não havia biblioteca; em 13%, elas estavam em processo de reabertura ou implantação.
O estudo considera apenas as bibliotecas mantidas pelas prefeituras. Mas, segundo o Ministério da Cultura, bibliotecas estaduais ficam concentradas nas capitais e o mais provável é que os municípios sem bibliotecas municipais não tenham nenhum outro espaço de leitura mantido pelo poder público.
Nas que estavam em funcionamento, o censo constatou fragilidades: 71% não ofereciam acesso do público à internet, 91% não tinham estruturas acessíveis a deficientes visuais e 53% tinham condições inadequadas, segundo os técnicos.
Parte desses problemas foi considerada crítica por Fabiano Piúba, diretor de livro, leitura e literatura do ministério. A falta de acessibilidade, segundo ele, é "gravíssima".
Piúba afirma que a responsabilidade pelas bibliotecas é, principalmente, dos municípios. À União, continua, cabe instigar as cidades a organizarem o espaço e oferecer materiais, como livros e mobiliário.
Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional dos Municípios, afirma que a biblioteca deveria ser vista com mais importância pelos gestores, mas que os municípios sofrem com falta de verbas.
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FOLHA DE SÃO PAULO, 05/09/2010

São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2010



OPINIÃO
Cineasta parece que acredita mesmo ser "rei do mundo"  

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

A cantora baiana Ivete Sangalo, em turnê nos EUA para divulgar DVD, causou comoção no país ao defender mudança na política norte-americana de imigração.
Durante uma coletiva de imprensa, Ivete divulgou uma "carta aberta" ao presidente Obama, pedindo para discutir o assunto.
"Já escrevi para o Lula pedindo ajuda", disse. "Do Obama não tive resposta, mas espero encontrar com ele em breve." Ivete convocou também outro astro, Roberto Carlos, para manifestação a favor dos imigrantes.
O governador do Texas agradeceu e pediu a Ivete que gravasse seu próximo disco no Estado. Isso não aconteceu, claro. Ou melhor: aconteceu sim, no Brasil.
É só substituir "Ivete Sangalo" por "James Cameron", "imigração" por "exploração da Amazônia", "Roberto Carlos" por "Sigourney Weaver", "governador do Texas" por "governador do Amazonas" e trocar a ordem das palavras "Obama" e "Lula".
Se um famoso artista norte-americano faz isso, porque um famoso artista brasileiro não pode fazê-lo?
Ninguém quer julgar a legitimidade da preocupação de Cameron com a Amazônia. É louvável que qualquer cidadão do mundo tenha a mesma atitude.
Mas é preciso distinguir entretenimento de realidade. Enquanto milhares de ambientalistas passam anos pesquisando problemas para tentar chegar a soluções reais e efetivas, fica difícil levar a sério alguém que disse "ter lido muito" sobre o assunto, mesmo que seja o cineasta mais famoso do mundo.
Em 1998, ao ganhar o Oscar de melhor diretor por "Titanic", Cameron subiu ao palco, abriu os braços e, em rede mundial de TV, gritou: "Sou o rei do mundo!". Ele parece realmente acreditar nisso. E o pior: nós também.

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São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2010


Eletronorte tenta cooptar índios do Pará 

Estatal é acusada de dar presentes a líderes indígenas para que apoiem a construção da hidrelétrica de Belo Monte

Empresa nega ter agido para conquistar apoio de índios; Funai afirma que ignora oferta de presentes com esse fim

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DE BELÉM


A Eletronorte vem tentando cooptar com presentes grupos indígenas da Amazônia para que eles apoiem a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.
A tentativa foi relatada à Folha por um dos envolvidos nas negociações com os índios, sob a condição de não se identificar. Ela também foi denunciada por ONGs e pelos índios ao menos desde 2007 ao Ministério Público Federal, que nunca conseguiu comprová-la.
A Eletronorte nega "categoricamente" dar presentes para cooptar índios. A Funai disse que desconhece o caso.
A resistência dos indígenas à obra representa um dos maiores entraves para que a usina, leiloada em abril deste ano, possa de fato ser erguida, no rio Xingu, oeste do Pará. Mas se intensificou e explicitou neste ano.
A suposta tática focou principalmente os xicrins da região de Bacajá, um dos povos indiretamente atingidos pelas obras, e que têm ascendência sobre outras etnias.
Líderes xicrins têm recebido cestas básicas, aluguel de barcos, motores e até casas alugadas em Altamira (PA), segundo relato à Folha. Estima-se que os presentes tenham custado R$ 400 mil.
Antes críticos de Belo Monte, eles disseram que mudaram de opinião e que agora querem a hidrelétrica. O anúncio foi feito no início de junho, durante um encontro indígena em Altamira.
Relatório feito pela ONG Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) dois dias após o final do encontro diz que alguns índios "alegaram estar a favor de Belo Monte devido às ameaças... realizadas por parte do governo, de retirar a assistência da Funai e de saúde".
Desde o encontro, a cisão entre os indígenas aumentou. Antes unidos contra a usina, hoje há ao menos seis líderes que apoiam o projeto.
A pressão também é feita sobre os índios juruna. Marcos Apurinã, coordenador-geral da Coiab, disse que visitou uma comunidade da etnia e disse ter ouvido do líder Manoel Juruna que ele não sabia o que pensar, pois as ONGs críticas a Belo Monte não o ajudavam e a Eletronorte lhe deu um barco.
"A aldeia tá rachada, porque tem outro líder que é totalmente contra a usina. Lula está dividindo os índios."
A Eletronorte, por meio de sua assessoria, negou estar envolvida na cooptação de índios para o apoio a Belo Monte: "Não faz parte da política da Eletrobras/Eletronorte, no trato com comunidades indígenas, "dar presentes"... A empresa nega, categoricamente, quaisquer envolvimentos com grupos indígenas no sentido de aprovar ou reprovar questões afeitas a Belo Monte".
A Funai afirmou que "desconhece qualquer tipo de ação de cooptação em troca de apoio para a construção da usina. Bem como discorda desse tipo de atitude".
A tentativa foi relatada à Folha por um dos envolvidos nas negociações com os índios, sob a condição de não se identificar. Ela também foi denunciada por ONGs e pelos índios ao menos desde 2007 ao Ministério Público Federal, que nunca conseguiu comprová-la.
A Eletronorte nega "categoricamente" dar presentes para cooptar índios. A Funai disse que desconhece o caso.
A resistência dos indígenas à obra representa um dos maiores entraves para que a usina, leiloada em abril deste ano, possa de fato ser erguida, no rio Xingu, oeste do Pará. Mas se intensificou e explicitou neste ano.
A suposta tática focou principalmente os xicrins da região de Bacajá, um dos povos indiretamente atingidos pelas obras, e que têm ascendência sobre outras etnias.
Líderes xicrins têm recebido cestas básicas, aluguel de barcos, motores e até casas alugadas em Altamira (PA), segundo relato à Folha. Estima-se que os presentes tenham custado R$ 400 mil.
Antes críticos de Belo Monte, eles disseram que mudaram de opinião e que agora querem a hidrelétrica. O anúncio foi feito no início de junho, durante um encontro indígena em Altamira.
Relatório feito pela ONG Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) dois dias após o final do encontro diz que alguns índios "alegaram estar a favor de Belo Monte devido às ameaças... realizadas por parte do governo, de retirar a assistência da Funai e de saúde".
Desde o encontro, a cisão entre os indígenas aumentou. Antes unidos contra a usina, hoje há ao menos seis líderes que apoiam o projeto.
A pressão também é feita sobre os índios juruna. Marcos Apurinã, coordenador-geral da Coiab, disse que visitou uma comunidade da etnia e disse ter ouvido do líder Manoel Juruna que ele não sabia o que pensar, pois as ONGs críticas a Belo Monte não o ajudavam e a Eletronorte lhe deu um barco.
"A aldeia tá rachada, porque tem outro líder que é totalmente contra a usina. Lula está dividindo os índios."
A Eletronorte, por meio de sua assessoria, negou estar envolvida na cooptação de índios para o apoio a Belo Monte: "Não faz parte da política da Eletrobras/Eletronorte, no trato com comunidades indígenas, "dar presentes"... A empresa nega, categoricamente, quaisquer envolvimentos com grupos indígenas no sentido de aprovar ou reprovar questões afeitas a Belo Monte".
A Funai afirmou que "desconhece qualquer tipo de ação de cooptação em troca de apoio para a construção da usina. Bem como discorda desse tipo de atitude".

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FOLHA DE SÃO PAULO, 30/10/2010

São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2010

PAINEL DAS LETRAS

MARCOS FLAMÍNIO PERES - marcos.flaminio@grupofolha.com.br

Biblioteca terá R$ 6 mi
A Fundação Biblioteca Nacional receberá R$ 6 milhões para digitalizar e microfilmar seu acervo de periódicos, de cerca de 9 mil títulos. Em entrevista à coluna, seu diretor, Muniz Sodré, afirmou que ao menos 14 milhões de imagens serão disponibilizadas para consulta no portal digital da instituição. A tecnologia de software utilizada será similar à da Biblioteca do Congresso, em Washington. A operação -bancada pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia- tem início em novembro, mas sem data para acabar.

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